RENATO CHORÃO
RENATO CHORÃO’s photographic practice unfolds as a fragile yet attentive gaze upon the everyday, moving between autobiography and autofiction in order to question memory, identity, and interpersonal relations. His work often emerges from a diaristic archive of images, shaped by personal and cultural influences.
*
How would you describe your practice? Through photography, I seek to establish a careful and fragile gaze upon my daily life. My work takes on a diaristic register, navigating between autobiography and autofiction, as an attempt to understand and organize everything that surrounds me, and to reflect on interpersonal relationships, identity, and the world. In this sense, issues related to family, religion, and sexuality are deeply present in my subconscious, and they end up “contaminating” all of my work.
How do you define your work process? I feel that I work in a fluid, intuitive, and intimate way. As a continuation of my diaristic practice, I work with the accumulation of images: I collect, archive, and constantly revisit photographs that accompany my everyday life. Projects emerge from there: through an exercise of association between photographs from my archive and the ideas, thoughts, and experiences I am living at that moment. In retrospect, perhaps unconsciously, my gaze is already shaped by all those previous layers: traumas and memories. The intersection between the internet and pop culture is a constant influence in my research. In my most recent projects, Sharing is Caring and I no longer go out at night with my friends, I have been reflecting on the migrations between analog/digital as a possible regression: the return to analog in a moment when everything around us increasingly inhabits the digital space. In this process, I am interested in understanding how I can decode that (digital) space and appropriate its references in a tangible way. I have mostly been working within the format of publications and zines, but recently I have been exploring other processes and mediums such as printmaking, embroidery, and acrylic.
How do you work with memory and archive in your practice? I believe that working with photography means constantly working with memory and archive, even if unconsciously. I found in the process of photographing an extension of my memory, but also a way to work for the memory of spaces, moments, and people with whom I cross paths. As I mentioned earlier, I am constantly revisiting my archive. And it is in this process that my works emerge, resulting in “new archives” such as One Night Stand (2020), or Souvenirs from Romania (2021), which are formally archives of two different experiences; or even in We’re not in hell, but very far from heaven (2022), which ends up being a more fluid and conceptual work in this sense, composed of photographs that arose from previous projects.
Which image you have created so far comes closest to perfection for you? The first image that came to my mind as soon as I read this question was a photograph I took in Rio de Janeiro at a bar called “Cantinho Maranhense.” I was shooting 35mm with a point-and-shoot camera. When I pressed the shutter, I thought: “I really hope this photo captures exactly what I’m seeing”, and it did. For some reason, that photograph was important to me, at that moment.
Finally, what are you currently working on? At the moment, I am working on my project I no longer go out at night with my friends, within the context of the Project Rooms program of the Porto Photography Biennale. This project will result in a publication, which I hope to edit soon. Lately, I have also felt the urge to continue my correspondence project Sharing is Caring.
RENATO CHORÃO desenvolve a sua prática fotográfica como um olhar atento e frágil sobre o quotidiano, movendo-se entre a autobiografia e a autoficção para questionar a memória, a identidade e as relações interpessoais. O seu trabalho nasce frequentemente de um arquivo diarístico de imagens, moldado por influências pessoais e culturais.
*
Como descreverias a tua prática? Através da fotografia procuro estabelecer um olhar atento e frágil sobre o meu quotidiano. O meu trabalho assume um registo diarístico, que navega entre a autobiografia e autoficção, como uma tentativa de compreender e organizar tudo que me rodeia; e refletir sobre as relações interpessoais, a identidade e o mundo. Nesse sentido, questões relacionadas com a família, a religião e a sexualidade estão muito presentes no meu subconsciente, e acabam por “contaminar” todo o meu trabalho.
Como caracterizas o teu processo de trabalho? Sinto que trabalho de uma forma fluida, intuitiva e íntima. Como continuação da minha prática diarística, trabalho com a acumulação de imagens: recolho, arquivo e revisito constantemente fotografias que acompanham o meu quotidiano. Os projetos surgem a partir daí: através de um exercício de associação entre fotografias do meu arquivo com ideias, pensamentos e experiências que estou a viver naquele momento. Em perspetiva, talvez de forma inconsciente, o meu olhar já esteja moldado por todas essas camadas anteriores: os traumas e as memórias. A interseção entre a internet e a cultura pop são uma influência constante na minha pesquisa. Nos meus projetos mais recentes, “Sharing is Caring” e “Já não saio à noite com as minhas amigas”, tenho pensado sobre as migrações entre analógico/digital como um possível retrocesso: o regresso ao analógico num momento em que tudo o que nos rodeia cada vez mais habita o espaço digital. Neste processo interessa-me perceber como posso descodificar esse espaço (digital) e apropriar-me das suas referências de um modo tangível. Tenho trabalhado maioritariamente no formato de publicação e zines, mas recentemente tenho vindo a explorar outros processos e suportes como a estampagem, o bordado e o acrílico.
De que forma trabalhas a memória e arquivo no teu trabalho? Acredito que trabalhar com fotografia é estar constantemente a trabalhar sobre memória e arquivo, ainda que de forma inconsciente. Encontrei no processo de fotografar uma extensão da minha memória, mas também de trabalhar para a memória dos espaços, momentos, e pessoas com as quais me cruzo. Como mencionei anteriormente, estou constantemente a revisitar o meu arquivo. E é neste processo que surgem os meus trabalhos, que resultam em “novos arquivos” como em One Night Stand (2020), ou Souvenirs from Romania (2021), que formalmente são arquivos de duas experiências diferentes; ou até mesmo em We’re not in hell, but very far from heaven (2022), que acaba por ser um trabalho mais fluído e conceptual nesse sentido, composto por fotografias que surgem de trabalhos anteriores.
Qual a imagem que criaste até agora que se aproxime para ti à perfeição? A primeira imagem que me veio à cabeça assim que li esta pergunta foi uma fotografia que fiz no Rio de Janeiro num bar chamado “Cantinho Maranhense”. Estava a fotografar em 35mm e a utilizar uma point-and-shoot. Quando pressionei o obturador pensei “Espero mesmo que esta fotografia capte exatamente isto que estou a ver”, e ficou. Por alguma razão aquela fotografia era importante para mim, naquele momento.
Por último, em que estás a trabalhar atualmente? Neste momento estou a trabalhar no meu projeto “Já não saio à noite com as minhas amigas”, no contexto do programa Project Rooms, da Bienal de Fotografia do Porto. Deste projeto surgirá uma publicação, que espero editar em breve. Ultimamente também tenho tido vontade de dar continuidade ao meu projeto de correspondência “Sharing is Caring”.