CATALINA JULVE JAUME
CATALINA JULVE JAUME develops a practice based on drawing and painting, as well as a way of thinking connected to the observation of humans, history, and territory. Her processes stem from archival images and found photographs, employing an intuitive and non-linear approach where the choice of mediums addresses conceptual issues.
*
How would you describe your practice? My practice is rooted in drawing and painting, understood not merely as visual languages but as forms of thought and expression. I work from the observation and interpretation of the human: their gestures, their traces, their mistakes. History, both collective and personal; and territory, as a lived space and as a symbolic construct, are the axes through which I question the present.
How do you define your work process? My creative processes begin with a photographic archive, a collection of images, or an exploration of other authors’ works. This serves as my starting point: a curated selection of photographs or images that I appropriate to uncover new interpretations within them. Along this journey, I discovered a guiding thread, a concept to explore, and questions yet to be answered, which I apply in the development of the work. The collection and observation of these images is an act of silent appropriation, where, rather than searching, I find. From there, an intuition emerges, sometimes vague, sometimes clear, that leads me to investigate, establish connections, and question. There’s no straight line. There’s friction, unexpected combinations, and divergences. The entire process is traced through drawing, mural painting, figurative painting, or any other discipline rooted in these traditional processes. In them, I find resistance, craftsmanship, and a form of commitment to the image. My work and the concept unfold within this chronology of practice.
How do you balance the transition between different mediums in your work? The transition between mediums doesn’t arise from a desire for formal experimentation but from a conceptual necessity. Each technique, drawing, painting, and mural, has its internal logic, its own time, and its density. I choose the medium that can best support the question I am posing. Often, the balance is not in a fluid mixture but in the friction between languages. What maintains coherence is the conceptual thread, the connection to the historic and the symbolic. Form is always in service of that search.
What references, images, or symbols appear in your work? My imagination feeds off the archive, the found image, and the document as both trace and construction. Goya, in his rawest and most graphic form, is a constant presence, not only for his visual power but for his commitment to violence, contradiction, and memory. The landscape, beyond its representation, interests me as a space of conflict, as a material mark of the passage of time and ideologies. I work with images that carry history, that have passed through other eyes before mine, and that forces me to respond.
Finally, what are you currently working on? Right now, I am developing a printmaking project for the creation of large-format etchings. It will be a reinterpretation of Goya’s engravings, and my intention is to present it in 2027. I am also preparing a project to apply for the ARCO Madrid 2026 open call with the support of the Institut d’Estudis Baleàrics. At the same time, I am working on a collaborative project, soon to be presented in Catalunya, in partnership with musician Carles Belda and poet Xavier Grimau, for the publication of a book-album that will feature literary, musical, and graphic components.
CATALINA JULVE JAUME desenvolve uma prática a partir do desenho e da pintura. Como uma forma de pensamento, ligada à observação do humano, da história e do território. Os seus processos têm origem em imagens de arquivo e fotografias encontradas, num processo intuitivo e não-linear, onde a escolha dos meios responde a questões conceptuais.
*
Como descreverias a tua prática? A minha prática articula-se a partir do desenho e da pintura, entendidos não apenas como linguagens plásticas, mas como formas de pensamento. Trabalho a partir da observação e da interpretação do humano: os seus gestos, as suas marcas, os seus erros. A história, tanto a colectiva como a pessoal; e o território, como espaço vivido e como construção simbólica, são os eixos a partir dos quais questiono o presente. Pinto e desenho não para ilustrar ideias, mas para pensar através da matéria, do corpo e da imagem.
Como caracterizas o teu processo de trabalho? Os meus processos têm origem no arquivo fotográfico, na acumulação de imagens ou na revisão de outros autores. Esse é o meu ponto de partida: um conjunto de fotografias ou imagens das quais me aproprio para encontrar nelas uma nova interpretação. Nesses percursos encontro um fio condutor, um conceito sobre o qual falar, perguntas por responder, que aplico no desenvolvimento da obra. A recolha e observação destas imagens é um acto de apropriação silenciosa, onde mais do que procurar, encontro. A partir daí surge uma intuição, por vezes vaga, por vezes clara, que me leva a investigar, estabelecer ligações, questionar. Não há uma linha recta. Há fricção, associações inesperadas, bifurcações. Todo esse caminho é traçado através do desenho, da pintura mural, da pintura figurativa ou de qualquer outra disciplina enraizada nesses processos tradicionais. Nelas encontro resistência, ofício e uma forma de compromisso com a imagem. A minha obra e o conceito vão-se desdobrando nessa cronologia da prática.
Como se equilibra a transição entre os diferentes meios na tua obra? A transição entre meios não surge de uma vontade de experimentação formal, mas de uma necessidade conceptual. Cada técnica, o desenho, a pintura, o mural, tem a sua lógica interna, o seu tempo e a sua densidade. Escolho o meio que melhor pode sustentar a pergunta que estou a colocar. Muitas vezes, o equilíbrio não está numa mistura fluida, mas na fricção entre linguagens. O que mantém a coerência é o fio condutor conceptual, a ligação ao histórico e ao simbólico. A forma está sempre ao serviço dessa procura.
Quais as referências, imagens ou símbolos que vão aparecendo no teu trabalho? O meu imaginário alimenta-se do arquivo, da imagem encontrada, do documento enquanto vestígio e enquanto construção. Goya, na sua vertente mais crua e gráfica, é uma presença constante, não apenas pela sua força visual, mas pelo seu compromisso com a violência, a contradição e a memória. A paisagem, para além da sua representação, interessa-me como espaço de conflito, como marca material da passagem do tempo e das ideologias. Trabalho com imagens que carregam história, que passaram por outros olhos antes dos meus e que me obrigam a responder.
Por último, em que estás a trabalhar atualmente? Neste momento estou a desenvolver um projecto de gravura para a criação de águas-fortes em grande formato. Será uma releitura dos gravados de Goya, e a minha intenção é apresentá-lo em 2027. Estou também a preparar um projecto para me candidatar à convocatória da ARCO Madrid 2026, com o apoio do Institut d’Estudis Baleàrics. Paralelamente, trabalho num projecto a três mãos, prestes a ser apresentado na Catalunha, em colaboração com o músico Carles Belda e o poeta Xavier Grimau, para a edição de um livro-disco com vertentes literária, musical e gráfica.